quarta-feira, 13 de abril de 2011

Façamos um Abril novo...


Continuar Abril

Não tinhas certezas se a vida era tua

ou se te a tiravam ao virar da rua.

Não tinhas palavras, não tinhas sossego.

Não tinhas reforma do teu magro emprego.

Não tinhas direitos, não tinhas horário.

Não tinhas sustento do pouco salário.

Mas tinhas certezas e tinhas palavra.

E tinhas direitos, que alguém te tirava.

Não querias ser leigo da escola e da vida.

Sabias que a luta não estava perdida.

Não querias a guerra que não era tua,

a matar teus filhos, deixando-te nua.

Não querias a fome que tinhas na mesa.

Pulaste fronteiras, com muita tristeza.

Não querias partir, não querias a guerra, não querias a fome, grassando na terra.

Por isso lutaste, fechaste degredos.

Mostraste o teu cravo, encerraste os medos.

Feliz madrugada fizeste romper.

Mas não adormeças que pode morrer.

Continua a luta, com mais e mais mil.

Semeia e planta mais cravos de Abril.

Continua a luta pela liberdade.

Dá força e raiz à nossa unidade.

Continua a luta, com fraternidade.

Contra as injustiças e pela igualdade.

Continua a luta e sê solidário.

P’ra fazer o bem, não tenhas horário.

Continua a luta… enquanto és capaz.

Para que no Mundo haja sempre Paz.


Continua Abril. Continua sempre.

Transforma-o, se podes, em estrela candente.


Poema de Helena Chainho, Abril de 2000

segunda-feira, 7 de março de 2011

Parabéns… Mulher!




Mulher.

Que és mãe. Trabalhadora. Conselheira. Amiga.

E às vezes até escrava

de deveres que não são só teus!


Mulher.

Que carregas. Lavas. Passas. Coses. Corres,

quase sempre ao encontro do trabalho

tantas vezes incerto e mal pago!


Mulher.

Que amas. Que choras.

Que sorris e partilhas alegrias

da vida tão curta para tanto fazer,

no tempo tão escasso!


Mulher.

Que pensas. Que lutas.

Que conquistas palmo a palmo o amanhã e te libertas,

correndo para o futuro

que é teu.

És Mulher, inteira!


Helena Chainho

/ 8. Março. 2001

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

«ESCUTA, CHILE»

«A voz de Katyia Olevskaia era a voz de um anjo laico que, nas ondas da Rádio Moscovo, nos ofereceu doses de esperança durante os anos mais duros e negros da história do Chile. Katya desapareceu, longe da sua pátria soviética que já não existe, num exílio impregnado de derrota, como todos os exílios, sob um céu bem longe dos nublados crepúsculos moscovitas em que a sua voz se ia acendendo lentamente até alcançar o fulgor daquela saudação tão amada por tantas e tantos de nós, que esperávamos o calorzinho necessário que nos ofertava quando dizia «Escuta, Chile».
No meio do medo, enquanto os cães ocupavam as rua do Chile, alguém ligava um rádio, procurava em onda curta, e, num volume muito baixo, as companheiras e companheiros juntavam-se à volta do receptor para resistir, porque a resistência à ditadura forjou-se em tardes frias, em noites demasiado longas, exercendo o dever de clandestinidade primária que consistia em informar-se, em saber quem e quantos tinham morrido ou desaparecido. Mas essa forma de resistência, de clandestinidade a baixo volume, dava-nos também a certeza de não estarmos sozinhos no meio do terror, e a voz de Katya, ao anunciar « Escuta, Chile », era a única esperança que chegava até nós.
Esperávamos a sua voz de anjo soviético e laico no Chile e nos países de exílio. Como todos os anjos, Katya foi também um anjo puro e ingénuo. Era como um ser de romance, dos melhores romances de um tempo de que apenas restam recordações, porque a formidável ideia do soviete, da pátria soviética, do país dos operários, camponeses, estudantes e soldados, diluiu-se sem pena nem glória e sem que os crentes fervorosos dessa bela utopia – os anjos como Katya – pudessem fazer alguma coisa para o impedir.
Katya era a solidariedade no seu estado mais puro, a entrega total e sem outra razão que não fosse a poesia da luta, Katya era o Poema Pedagógico, de Makarenko, a noiva invisível dos Komsomol de Assim foi Temperado o Aço, o emblema Quixotesco do valente soldado Chapaiev, a ternura feroz de A Mãe, de Gorki, Katya era tudo aquilo condenado a desaparecer pela sua própria estatura.
Quando se desmoronou a União Soviética e o resto dos países do chamado socialismo real se entregaram à brutalidade mafiosa do capitalismo na sua pior expressão, a fase sem moral da acumulação primária, tudo o que Katya representava foi considerado obsoleto, imoral, condenável e ela foi testemunha da miséria moral a apoderar-se de tudo aquilo que alguma vez teve significado cheio de digna humanidade.
A sua voz a convidar « Escuta Chile », apagou-se, e é possível que não reste nenhuma gravação daqueles programas destinados aos que sofriam e para quem essa voz era única esperança que chegava do grande mundo.
Encontrei-me com ela em Moscovo, pouco antes de ir para o exílio final em Israel. Demos um passeio por aquela cidade invernosa e vimos velhos tolhidos de frio a vender as suas condecorações de heróis da União Soviética. Nunca me esquecerei de uma anciã que vendia um lote de fotografias da Segunda Guerra Mundial. Eram instantâneos da Rosas de Estalinegrado, uma esquadrilha de mulheres-pilotos que com os seus aviões foram o pesadelo dos nazis. Nas fotos viam-se as belas raparigas soviéticas, e a anciã que as vendia era uma delas. Katya olhou-me com azul tristeza, eu apertei-lhe a mão e afastámo-nos no mar de derrotados.
Katya Olevskaia devia ter recebido a mais elevada gratidão por parte dos chilenos, mas tal não aconteceu. Os seus queridos amigos, Virgínia Vidigal, José Miguel Varas, Cristina de Largo, não falharam e devotaram-lhe todo o amor solidário que lhes foi possível. Mas o País, empenhado em esquecer a épica e construir-se a si próprio sem memória, não correspondeu.
Katya Olesvskaia morreu num país distante, sob outro céu, porque assim se apagam as vozes dos anjos soviéticos e laicos.
Escuta, Chile: liga um rádio antigo, procura em onda curta, reúne os que te são queridos num acto necessário de resistência e recordação. O silêncio do éter dir-te-á que a voz doce de Katya desapareceu para sempre.»

Este é um dos contos de autoria de Luis Sepúlveda publicado em livro sob o Título «histórias daqui e dali».
A razão que me moveu para a sua transcrição foi por encontrar semelhanças entre o não reconhecimento, por parte do Estado Chileno, pelo papel desempenhado por Katya em tempos muito difíceis e o não reconhecimento, como devia, do Estado Português a uns tantos portugueses que de lá bem longe, através da Rádio Portugal Livre, deram voz à resistência contra a «sinistra máquina da ditadura» que governou Portugal durante 48 anos.
Aurélio Santos, Veríssima Rodrigues, Maria Piedade Morgadinho, entre outros, também ainda não tiveram direito à mais alta condecoração que o Estado Português lhes deve (ainda o podem fazer) mas, há pouco tempo, quando comemorava-mos os oitenta anos do Aurélio, tivemos a oportunidade de ouvir uma gravação do tempo em que eles diziam também, à sua maneira, Escuta Portugal..., sim porque no PCP respeita-se a memória.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

ARTE E ECONOMIA - Culinária (continuação 1)



«...Passeios

Deve dar-se livres tôdas as tardes do Domingo às criadas.

Quem trabalha seis dias tem direito a uma tarde de descanso.

Basta nesse dia fazer um almôço abundante, de forma que o jantar seja rápido e fácil de executar pela dona de casa.

Esta tem as suas horas livres para sair quando lhe aprouver. No entanto, não o deve fazer, sem que os serviços de casa que estão à sua guarda estejam em ordem não sendo necessária a sua presença, com um filho doente, um jantar de cerimónia, o arranjo das roupas, enfim, tudo qanto diz respeito à boa organização do seu lar, que está sempre em primeiro lugar que os passeios e divertimentos. Se porém, o marido mostrar desjo da sua companhia, então não hesitará, deixando para mais tarde as suas ocupações, que cumprirá logo que lhe seja possível.

Paciência

Esta qualidade é ainda das mais difíceis de conservar em diferentes emergências da vida.

Diante dum serviço mal feito, dum objecto de estimação partido, dum dôce queimado, dum hóspede que chega à última hora, perde-se muitas vezes a paciência, que nestes casos é um grande e poderoso auxiliar.

É um péssimo costume , que tenho observado em algumas casas, a cara de enfado e visível mau humor da dona de casa, quando surge um hóspede inesperado e à hora da refeição.

Ou até mesmo num jantar de cerimónia, para o qual fômos convidados, a dona de casa, mal tocando nos alimentos e com visíveis traços de inquietação. Não há nada mais desagradável !

Se foi o marido, que trouxe o hospede, é não só uma grosseria para o recem-chegado, como uma humilhação para o marido, que, como dono da casa, está no seu direito de trazer quem lhe aprouver. Se algum transtôrno isso nos causa, não é a ocasião propícia de lho dar a perceber.

Dominemos, pois, quanto possível, as nossas arrelias, apresentando-nos aos nossos hospedes com uma cara alegre e praseira, mostrando-lhes que nos é sempre agradável a sua companhia. Bem entendido, que não será permitido ao pessoal o menor gesto de desagrado, compensando-o de qualquer forma do trabalho extra, que porventura possa ter.

Peçamos aos nossos hospedes a máxima indulgência para as faltas que houver no serviço e para a modéstia da nossa ementa, procurando num pequeno lapso de tempo em que a nossa ausência se não faça notar, melhorar a sobremesa, organizar um prato extra com ovos, legumes ou conservas de lata e com esse dom precioso da «paciência» conseguiremos remediar todos os males, não toldando o bem-estar e alegria dos nossos, unico fim a que devemos visar.

Tenacidade

É necessário, embora muitas vezes nos constranja o coração, sermos tenazes numa ideia, num princípio, numa ordem dada para que ela se cumpra sem exitações. Enfada, bem sei, repetir a mesma cousa, mas só com muita tenacidade se consegue os serviços da casasejam feitos a nosso gôsto, na ocasião propícia e sem interrupção.

Bom humor

Quantos desgostos, quantas palavras duras e amargas pouparíamos, se o nosso humor fôsse constantena vida caseira.

O marido chega tarde para jantar? Um dito alegre, uma frase de espírito, e eis dissipada a nuvem que tentava formar-se, desencadeando a tempestade.

Se, porém, isso se torna um hábito, desorganizando assim a vida de casa, prejudicando a saúde dos filhos, sem que um motivo de fôrça maior o obrigue a isso, então a dona de casa fará servir o jantar a si e aos filhos à hora certa, em seguida as criadas, tendo porém o máximo cuidado que a refeição do marido seja cuidada, e muito do seu agrado, servindo-o ela, caso as criadas estejam a comer. É a única hora, durante o dia, em que elas descansam, tendo portanto o direito de estar tranquilas e sossegadas.

Tolda muitas vezes o “bom humor” uma criada que se despede, e a prespectiva do serviço a fazer. Que importa isso para uma senhora inteligente e dotada de bom humor?

Já lá vai o tempo em que a educação das meninas se baseava em saber francês e tocar piano. Hoje, quási tôdas sabem suprir todos os serviços de casa sem grande dificuldade.

Se a noite é mal passada com os filhos pequenos, ou alguém de família doente, activa-se o serviço para poder descansar duas horas de tarde a -fim-de conservar a saúde e o bom humor, qualidades principais da dona de casa para obter a felicidade no lar.»

Está a gostar? Esteja atenta/o que brevemente darei continuidade a esta transcrição, entretanto pode ir fazendo os seus comentários.

Até breve


quarta-feira, 18 de agosto de 2010

ARTE E ECONOMIA - Culinária

Nesta e nas próximas “postagens” vou transcrever um livro de culinária de ESTELA BRANDÃO, intitulado «ARTE E ECONOMIA» publicado em finais dos anos trinta do século passado, pela livraria Simões Lopes na cidade do Porto.

Desse livro, dedicado á sua «querida Neta Maria de Lurdes Brandão d'Almeida», vou hoje aqui deixar «CONSELHOS DOMÉSTICOS».


«A arte de cozinhar

Cozinhar é uma arte delicada, que requer muita paciência, habilidade, inteligência e tempo.

A ideia errada de que qualquer cousa serve desde que se côma, é péssima e dá origem a certos desleixos imperdoáveis.

As iguarias devem ser apresentadas, bem feitas e tendo todos os temperos que requerem.

Não se pode exigir que uma receita satisfaça o paladar desde que se lhe falte com um ou mais condimentos que à primeira vista não parecem essenciais, mas tornam a iguaria muito mais saborosa e com melhor aspecto.

As ementas para estes 30 dias, foram coligidas na cozinha francesa e portuguesa. De aparência muito restricta são todavia muito nutritivas. Podem substituir-se bem entendido, por uaisquer outras insertas no final do livro. As fotrmulas são porém garantidas, pois tôdas experimentadas, deram óptimo reultado e muito agradaram.

As receitas de bacalhau estão inscritas no final do livro.

Nenhuma das minhas ementas têm bacalhau. É um alimento pesado, mas que na província tem que empregar-se, pela falta de recursos.

Todos neste país, melhor ou pior, sabem cozinhá-lo, no entanto escolhi umas vinte receitas, das que me pareceram melhores e mais delicadas. Podem as minhas leitoras utilizá-las em substituição de algum peixe difícil de encontrar para quem vive longe da cidade.

As receitas de caça vão bastante completas, o que permitirá uma grande varidedade no tempo próprio.

Para os doentes de figado e intestinos, que não possam usar de manteiga, pode esta ser substutuída por azeite menos nas iguarias que levem molhos brancos, bechamel, etc...

É necessário porém que o azeite seja de primeira qualidade.

Recomendo a tôdas as donas de casa, que não desurem nos almoços as entradas, que dispẽm sempre bem para a refeição, mòrmente no verão.

Ao jantar, atenção especial deve merecer a sôpa. É preciso que esta seja bem feita, nutritiva, variada e apetitosa.

Com as testrictas emendas que exponho é necessário atender a que todos os pratos sejam bons e bem feitos. A sobremesa não é dispensável. Faz parte do alimento, pois contem na sua maior parte ovos, leite, substancias muito nutritivas, permitindo ficar com o estômago leve e a trabalhar logo após a refeição sem prejuízo para a saúde.

As refeições abundantes e pesadas, enturpecem o espírito, amolentam a vontade e arruinam a saúde e a bôlsa.

Dizia um célebre escritor francês: “Diz-me o que comes, dir-te-ei o que és”.


Dona de casa

As qualidades primaciais duma dona boa dona de casa são as seguintes: Ordem, paciência, tenacidade, bom humor e economia. Com estas qualidades, não haverá um lar infeliz. Rico ou pobre, todos podem usufruir a felicidade na terra.


Ordem

É fácil de obter no que nos diz respeito, desde que a isso nos habituamos. Porém, quão difícil se torna consegui-la com o pessoal cada vez menos disciplinado!

O exemplo vem de cima. E, assim, compete à dona de casa arrumar os objectos do seu uso, sempre no lugar próprio, tendo o cuidado de proceder aos serviços de casa, que tenha a seu cargo, no devido tempo e quanto possível com boa disposição.

Deverá levantar-se cedo, vigiar se as suas ordens foram cumpridas, se as limpezas diárias se executam com perfeição, não distraindo o pessoal dos seus serviços, para que estejam concluídos às horas marcadas.

Se a dona de casa tiver uma vida mundana, que a obrigue a deitar-se tarde, será conveniente dar à noite uma nota por escrito, com o dinheiro preciso, para a criada trazer da praça no dia seguinte pela manhã tudo quanto fôr necessário para todo o dia.

Uma criada que tenha que dar o almôço ao meio dia, precisa estar de regresso das compras às nove e meia, o máximo dez horas.

Para isso, a dona de casa terá que indicar-lhe a hora de sair e de entrar em casa, para que a ordem não seja alterada.

Se, porém, houver uma só criada, e convenha mais à dona de casa fazer o serviço preciso das nove às onze, então ficará a descansar até essa hora, levantando-se quando a cridada sair, a fim de proceder aos serviços necessários para a arrumação da casa até ela chegar.

É um hábito – infelizmente já muito vulgarizado – ir a dona de casa fazer as suas compras com uma saca de oleado, onde trará tudo o que fôr preciso.

É higiénico o passeio matutino e útil sob o ponto de vista económico. Estará assim ao corrente dos preços dos géneros, ficando então a criada a fazer os serviços mais pesados, sem perda de tempo.

As criadas devem ser tratadas com a maior benevolência, fazendo-lhes sempre uma observação quando desleixarem qualquer serviço, ou o fizerem mal, mas tendo também uma palavra amável e boa quando êste fôr feito com perfeição e boa vontade.

Ser despótico e tirano para com o inferior não é próprio duma alma grande. E, embora com firmeza, fazem-nos melhor obedecer pela bondade que pela fôrça.

Deve dispensar-se o serviço das criadas às dez da noite, pois quem trabalha precisa de oito horas pelo menos de repouso.

Num dia de festa ou num caso excepcional, bem entendido, não se podem dispensar; mas, para isso, deve permitir-se que repousem mais uma hora na manhã seguinte.

A dona de casa deve suprir, com a sua presença, qualquer necessidade que haja durante a noite, não chamando a criada senão em casos excepcionais. O ordenado deve ser-lhes integralmente no fim de cada mês, pos quem trabalha tem necessidade do seu salário e não o entregando no preazo determinado, sujeitámo-nos a outros atrazos, que dão origem ao desleixo no serviço colocando-nos numa posição subalterna perante o inferior. »


Está a gostar? Esteja atenta/o que brevemente darei continuidade a esta transcrição, entretanto pode ir fazendo os seus comentários.

Até breve


quarta-feira, 13 de maio de 2009

Ser e Parecer

Há pessoas capazes de nos tocar profundamente, mesmo sem querermos! Paul Potts e Susan Boyle mostraram como podemos ser preconceituosos e julgar pelas aparencias. Apesar disso, continuamos a fazê-lo todos os dias. Esquecemo-nos de olhar para dentro e descobrir que o que cada um tem de melhor nem sempre é imediatamente visível.
Vejam, e se puderem contenham as lágrimas... ou não as contenham... deixem-nas rolar!!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

MEU BENFICA ...


Esperávamos mais, esperávamos muito mais...

Foi no passado sábado, dia 9 de Maio, no exterior do estádio da Luz, pouco mais de meia hora antes do inicio do jogo Benfica – Trofense, esperava um camarada que me iria acompanhar no apoio ao nosso Benfica, estava uma tarde de trovoada e a chuva caía sem piedade sobre os muitos que se apressavam para os seus lugares no estádio.

Mais uma vez tive oportunidade de ver que ao estádio da luz, faça sol ou chuva, acorrem crianças e idosos, homens e mulheres dos mais variados estratos sociais.
Um grupo de deficientes de uma qualquer associação que, por certo, a direcção do Benfica por bem achou convidar, apressava-se como quem não quer perder nenhum pormenor do tão desejado evento, turistas de várias nacionalidades passaram-me à frente observando com admiração a grandiosidade do estádio, imigrantes de África, do Brasil e do Leste da Europa também se davam a notar, nas crianças via-se-lhe espelhado na cara o imenso desejo de ver os seus ídolos da bola.

Hoje o Benfica vai ganhar por muitos, pensei. O adversário está no fundo da tabela, o Benfica não pode perder pontos e esta massa de fervorosos apoiantes merece ser presenteada com uma exibição à Benfica.
Assim não aconteceu, as coisas correram mal, a equipe não deu o seu melhor, esteve muito longe disso, subestimaram o adversário e não colocaram garra no seu desempenho, o empate foi inevitável.
Enquanto a claque da equipe visitante dava larga à alegria por um inesperado resultado, muitos benfiquista tiravam os lenços brancos como quem quer despedir-se do treinador e de alguns dos mais “molengões” jogadores.
Na cara das muitas crianças que durante o jogo não pararam de gritar em apoio do seu clube de eleição, o desencanto e a tristeza fazia-se notar.
Quando o jogo chegou ao fim, como que dando um mau pronúncio para o fim da época, um manto de negras nuvens cobriam o estádio.

No próximo jogo lá estarei, lá estaremos, porque como dizia Raquel Prates (apresentadora de televisão) ser do Benfica é não ser razoável.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

“ O MENINO ARY DOS SANTOS “


«A 18 de Janeiro de 1984 um cavalo à solta não devia morrer, uma estrela da tarde não podia enviuvar, os putos de bola de pano e dos arcos de Lisboa sentem de repente a orfandade da sua infância. A 18 de Janeiro de 1984, mais precisamente às 22,30, no fim do ultimo verso - «tenho saudades mãe» - morre José Carlos Ary dos Santos, o poeta de todos nós como lhe chamava Carlos do Carmo.
Morre de uma cirrose no coração. Morre de ternura pelos outros que é também uma forma de viver. Uma maneira de ser e de estar. Uma liturgia. Uma entrega desmedida, até fazer sangrar as palavras. Pode-se dizer que Ary alfabetiza a ternura para os que a desconheciam, deu a ternura em braille para aqueles que cegavam de tanta solidão. Porque ternura é o outro nome para Ary. Por ela entregou-se aos outros num desassossego de corcel, por ela foi um andarilho da Primavera, um cigano com a madrugada a tiracolo.
Deixou musicar-se, deixou-se das suas dores para ser o rei das chagas, dos pobres e dos podres. Tudo isto em nome da ternura, da procura que os desesperados fazem por um arco-íris de letras. Se procurou o aplauso não foi por facilidade, se procurou o público não foi por vedetismo, se procurou sempre a ternura foi também porque sabia que ele próprio também tiritava de solidão, mas não podia, nem queria desfolhá-la no palco ou no disco.
No fundo foi isso a sua vida, morrer de ternura pelos outros, morrer de tanto dar e não pedir nada em troca como o menino sentado ao fundo da sala com orelhas de burro porque disse ao professor que ternura era um bom adjectivo para a palavra amigo. Por isso a sua voz era uma bandeira vermelha toureando todas as feras, uma bandeira que desfraldava contra a tirania e a injustiça. Mas esta bandeira foi bordada por ele, em segredo, sozinho com a sua dor triste, na sua solidão de poeta, pagando cada verso com muito Gin e muito Português Suave (sem filtro). Bem se pode dizer que Ary doou a sua vida como se doa um coração para que a criança não tenha saudades da mãe. E talvez nisto residia a incompreensão e a inveja que o rodearam. Poucos perceberam que a sua poesia estava comprometida com a sua vida, que morrendo aos poucos pelos outros, fazia renascer em cada um o amor pelas portas que se abrem sempre que um homem sonha. Esta foi a sua entrega total, o seu canto franciscano por entre um caminho de cardos e de pedras. Só assim se entende que a sua poesia tenha chegado mais longe, mais perto dos párias numa pátria que segundo Ruy Belo não é «pátria, é só país».
A 18 de Janeiro de 1984 morre José Carlos Ary dos Santos, mas como nos diz Fernando Tordo - «Como um menino, ele passeia-se ontem e sempre pela loucura que foi, pela maravilha que é».

Este belo texto foi escrito pelo meu amigo e camarada Manuel José Sá Correia e publicado em 2001 pela Palimage-Imagem Palavra, no livro “CONVERSAS ENTRE NÓS” onde o autor em 25 textos homenageia 25 escritores portugueses.


Num momento em que comemoramos os 35 anos que decorrem desde a revolução dos cravos esta é a minha forma de homenagear dois comunistas de gerações e vivências diferentes mas que em mim forte influência tiveram.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

"A LÂMPADA DE ALADINO"

Estou furioso comigo, "despassarei-me" e já não vou poder ir a nenhum dos locais de Lisboa onde Luis Sepúlveda passa no âmbito do lançamento da sua nova publicação «A LÂMPADA DE ALADINO».
Sou dos seus fiéis leitores e estou sempre à espera de mais um trabalho, tenho pena, tenho mesmo muita pena de não o poder ir ouvir uns instantes que fosse.
Vou tratar de comprar o livro, agora numa edição da Porto Editora.
Há dias quando ouvia na TSF uma entrevista a um alto quadro das Edições ASA, este dava a informação de que se iría mudar para a Porto Editora onde tinha a intenção de abraçar um novo projecto desta livreira nacional, pensei se com ele não iriam também autores de renome como o do Sepúlveda, aqui temos a resposta.
Em alguns textos que li sobre esta publicação, reparei na referência ao facto de um dos seu 16 contos falar de Portugal e dos portugueses, estou curioso.
Encontrei também, na pagina da SIC online, as seguintes referências:
Trata-se de "um livro muito esperado pelo público", disse à Lusa Manuela Ribeiro, comissária das Correntes d'Escritas, o encontro anual de escritores de línguas ibéricas da Póvoa de Varzim. "É um escritor que criou público que o acompanha e está sempre atento. Relativamente a este livro, penso que há uma maior expectativa pois o anterior, "O poder dos sonhos" (2006), ficou um pouco aquém do esperado".
Francamente que não percebo este último reparo de Manuela Ribeiro, no que se refere ao "O Poder dos Sonhos" que, segundo ela, «ficou um pouco aquém do esperado». Mas quem esperava que esse livro tivesse ainda mais sucesso do que teve?
Em meu entender, "O Poder dos Sonhos" é uma excelente obra que transporta os portugueses para o periodo revolucionário iniciado em Portugal em Abril de 74, em particular para os que o viveram e defenderam.
Importa ainda referir que a publicação que antecedeu "A Lâmpada de Aladino" foi "Crónicas do Sul" e não "O poder dos Sonhos".
Há uns tempos, Luis Sepúlveda, disse que gostaria de escrever um livro tendo Lisboa como pano de fundo, aguardo com interesse essa publicação. Será a próxima?

sábado, 17 de maio de 2008

Igreja, Dinheiro e Poder


"Igreja Dinheiro e Poder", um livro de Jorge Messias, publicado pela Campo das Letras é uma obra que vivamente recomendo.

Há uns anos uma amiga ofereceu-mo com a seguinte dedicatória "ao meu amigo Telitos que esteve quase quase a ser padre".

Foi assim que tive contacto com este livro e o autor viria a conhecer anos depois quando, em animada conversa, a propósito das perversidades da igreja católica, lhe sugeri a leitura de um livro que tinha achado muito interessante, o "Igreja, Dinheiro e Poder", fez-se então um silêncio que não percebi e eis que uma terceira pessoa diz: "então não sabes que esse livro é de autoria do Messias?".

Devo ter sido a primeira pessoa a recomendar um livro ao seu autor, elogio de indiscutível sinceridade e, por ser caso que julgo único, aqui fica esta história com a recomendação da sua leitura.

À Solange que me ofereceu o livro e ao Messias que o escreveu, um grande abraço de obrigado.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Apetece-me um charuto !


Há momentos de prazer que só se completam com um "belo" de um charuto.

Desde que há oito anos abandonei definitivamente, sem dificuldade, os cigarros e me fui "apaixonando" pelos charutos.

Sendo verdade que esta paixão não é desmedida e que não abuso desse prazer, por isso mesmo se torna prazer, em momentos de grande satisfação, "cai-me" bem um charuto, queimado e saboreado na acalmia de numa boa conversa com amigos, no calor de uma noite de luar.

Tendo experimentado vários sabores, texturas, proveniências e preços, fiquei-me por quatro "cintas" (Guantanamera, Partacas, José L. Piedra e Cohiba) que recomendo, na certeza de que o custo se aproxima das possibilidades de minha bolsa. Digamos que é do melhor que encontrei na relação baixo preço/qualidade.

Experimentem e dêem uma opinião.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Rojões à moda da Beira

Hoje vou ser o cozinheiro...

A convite de amigos que exploram o restaurante, localizado na Biblioteca-Museu da República e Resistência, e inscrito nos jantares intitulados "Viagens gastronómicas" que se realizam todas as últimas sexta-feira de cada mês, vou confeccionar um prato que muito gosto e que, penso, está pouco divulgado.

Numa pesquisa pela Net verifiquei a ausência de referências a este prato que, sendo muito apreciado nas beiras, em particular na região do Dão, não lhe está a ser dado o merecido destaque.
"ROJÕES À MODA DA BEIRA", prato que Lurdes Campos me ensinou a preparar, assumem uma forma diferente dos de outras regiões do país nomeadamente os do minho.

Este manjar que incorpora carne da perna do porco (frita em banha depois de estar em vinha d'alhos) , chouriça de carne de Trancoso (cozida), morcela de Tarouca (cortada à rodelas e passadas na frigideira) , grelos cozidos, batata à racha (com a pele) e um toque de cor com cenoura (cozida).

De sobremesa vai haver requeijão com doce de abóbora bem ao jeito beirão.

O Vinho deve ser da região do Dão com a Touriga Nacional como casta dominante, a broa e azeitonas não devem faltar.


A noite vai prolongar-se com música cubana...

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Mais um do Luis Sepúlveda

Um dos meus autores preferidos, o Chileno Luís Sepúlveda, publicou mais um livro que vou já tratar de comprar.
"Crónicas do Sul" é escrito no momento em que morre o ditador chileno que tanto lhe condicionou a vida, a ele e a milhões de cidadãos por este mundo fora.

Este Homem que, nos anos setenta, foi membro activo da Unidade Popular Chilena teve que abandonar o seu país natal após o golpe militar fascista de Pinochet, andou pelo mundo, viajou e trabalhou em vários países da América latina e, que eu saiba, na Europa viveu em Bona (Alemanha) tendo vindo a fixar residência em Gijón, nas Astúrias. Não tenho a certeza, também não será importante, mas parece-me que terá passado um tempo pela Galiza.

Foi activista do Greenpeace, é humanista e internacionalista.

Luís Sepúlveda foi-me apresentado por uma amiga quando me ofereceu "O velho que lia romances de amor", desde essa data que não parei de ler a sua obra e a ele lhe estou grato pelas inúmeras e importantes mensagens contidas na prosa dos seus livros.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Cantinho Alentejano



De vez em quando vale a pena fazer uma incursão a espaços de boa mesa para aproveitar a oportunidade que algumas pessoas nos dão ao permitirem a degustação das suas criações.

Eu e alguns amigos temos este "vício" e, num desses percursos, demo-nos no "CANTINHO ALENTEJANO"
um espaço acolhedor que, francamente, recomendo.
A arte de bem servir em ambiente tipicamente Alentejano, com música de fundo a preceito, aconchega-nos para uma viagem nos sabores das terras da luta.

Dina Oliveira, a proprietária, prende-nos com a simpatia de quem considera os clientes acima de tudo como "amigos da casa".
Este espaço, que recomendo, situa-se na rua da Quinta do Casalinho - nº4, loja B , Cruz de Pau - Amora - Seixal